Antes e agora, longe e aqui dentro
Em um diálogo entre seu acervo e a arte contemporânea brasileira, o Museu Oscar Niemeyer (MON) realiza a exposição “Antes e agora, longe e aqui dentro”, na Sala 11 e espalhada em diversos espaços do Museu. São mais de 100 obras de 44 artistas diferentes, dos quais se destacam os artistas nucleares Cícero Dias, Miguel Bakun, Amelia Toledo, Efigênia Rolim, Rosana Paulino e Gustavo Caboco.
Nesta mostra, com curadoria de Galciani Neves, pinturas, desenhos, fotos, esculturas, vídeos, áudios e instalações, reunindo técnicas variadas, discutem as relações entre corpo e território e os muitos modos de habitar, ser e registrar paisagens.
Artista
Ailton Krenak, Alice Yamamura, Aline van Langendonck, Amélia Toledo, Américo Vespúcio, Anita Malfatti, Ayrson Heráclito, Burle Marx, Cícero Dias, Didonet Thomaz, Dorothea Wiedemann, Edu Simões, Efigênia Rolim, Espedito Rocha, Felipe Prando, Fernanda Castro, Fernanda Magalhães, Georgia Kyriakakis, Gustavo Caboco, Gustavo Magalhães, João Groff, João Urban, Julia Kater, Juliana Stein, Juraci Dorea, Kamikia Kisedje, Leonor Botteri, Lia Chaia, Martín Chambi, Maya Weishof, Miguel Bakun, Milla Jung, Oscar Niemeyer, Paulo Bruscky, Raphaela Melsohn, Raquel Garbelotti, Regina Parra, Regina Vater, Rosana Paulino, Tiago Sant’ana, Tomie Ohtake, Tony Camargo, Vera Chaves Barcellos e Willian Santos
Curadoria
Galciani Neves
Período em cartaz
De 29 de fevereiro de 2024
Até 25 de agosto de 2024
Local
Sala 11
Planeje sua visita
SAIBA MAIS SOBRE A EXPOSIÇÃO
O Museu Oscar Niemeyer (MON) realiza uma exposição inédita, “Antes e agora, longe e aqui dentro”, que será inaugurada no dia 29 de fevereiro, na Sala 11 e em diversos espaços, como Pátio das Esculturas, hall térreo, rampa e Parcão, entre outros.
A mostra resulta de um projeto que teve início no ano passado, cuja proposta é estabelecer diálogos entre o acervo do MON e a arte contemporânea brasileira, além de gerar conteúdo para o setor Educativo do Museu. Atualmente, a coleção permanente da instituição conta com 14 mil obras de arte.
A exposição tem curadoria da professora e pesquisadora Galciani Neves e apresenta mais de 100 obras realizadas por 44 artistas. Entre elas estão pinturas, desenhos, fotos, esculturas, vídeos, áudios e instalações, reunindo técnicas variadas.
A diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika, explica que metade das exposições realizadas pelo MON apresenta obras de seu diverso e rico acervo, que quintuplicou de tamanho nos últimos anos e vem sendo cada vez mais valorizado.
“O MON é um espaço vivo de diálogo, pesquisa e constante troca entre profissionais dos setores artístico e educacional com o público”, comenta Juliana. “Esta nova proposta culmina com essa inédita exposição de obras do acervo, o que torna a coleção permanente do Museu cada vez mais acessível ao visitante”, explica.
Metodologia
“Antes e agora, longe e aqui dentro” faz parte da ampla proposta educativa do MON. No ano passado, como parte do projeto, foi realizado um seminário no Museu, com a presença da artista e pesquisadora Glicéria (Célia) Tupinambá e do crítico de fotografia e pesquisador do campo da cultura visual Ronaldo Entler.
Seis artistas, com obras presentes na coleção permanente da instituição, foram selecionados para serem eixos do projeto. São eles: Cícero Dias, Miguel Bakun, Amelia Toledo, Efigênia Rolim, Rosana Paulino e Gustavo Caboco.
A partir de uma ampla pesquisa, foram escolhidas mais de uma centena de obras, produzidas por 44 artistas. São trabalhos considerados relevantes tanto para o contexto de produção artística da cidade de Curitiba quanto para a história da arte do Estado do Paraná e do Brasil e que, assim, tentam celebrar a diversidade do acervo do Museu e sua importância.
A proposta principal é gerar conteúdo educativo, a partir de um mergulho no acervo. “Tendo como título ‘Antes e agora, longe e aqui dentro’, a mostra apresenta trabalhos que discutem as relações indissociáveis entre corpo e território e os muitos modos de habitar, ser e registrar paisagens, propondo paisagens: aquilo que avistamos ao longe, que definimos como um recorte de um lugar, o que está perto demais (como a palma da mão) ou a distância entre duas pessoas, uma construção de partilha com o tempo e o lugar”, explica a curadora.
Imagens
Crédito da imagem: Cadi Busatto
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Crédito da imagem: Cadi Busatto
Créditos: Alexandre Mazzo
Crédito da imagem: Sergio Guerini
Crédito da imagem: Cadi Busatto
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Crédito da imagem: Cadi Busatto
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Créditos: Alexandre Mazzo
Materiais da Exposição
Versão em áudio - Texto Institucional
Versão em áudio - Texto Curatorial
Esta mostra e três ciclos de seminários integram o projeto “Mvúka” – processo de pesquisa experimental que vem sendo realizado no acervo do MON, em parceria com as equipes do Educativo, Design, Arquitetura, Comunicação, Acervo e Produção do museu. “Mvúka”, no Banto, tronco linguístico que dá origem a mais de 400 línguas africanas, significa aglomeração ruidosa de pessoas em festa. No Brasil, para os povos originários, muvuca é uma técnica de plantio ancestral que consiste na mistura de sementes de diversas espécies. As diferenças entre os ciclos das espécies de sementes restauram as matas, criam um ambiente de cooperação e garantem a biodiversidade do lugar.
Essa proposta artística se vale da mvúka/muvuca como fundamento. Tentamos dialogar com os contextos em que a palavra circula para articular modos de nos aproximar e compartilhar trabalhos de artistas, tempos de produção, linguagens, processos de criação, camadas de leitura provenientes de outros campos de conhecimento, privilegiando uma convivência entre obras de arte e modos de pensar e estar no mundo. Dessa maneira, assim como na mvúka/muvuca, elaboramos uma atmosfera de exposição que celebra o estar junto na diversidade, na polifonia, no encontro das singularidades.
Tendo como título “Antes e agora, Longe e aqui dentro”, a mostra apresenta trabalhos que discutem as relações indissociáveis entre corpo e território e os muitos modos de habitar, ser e registrar paisagens, propondo paisagens: aquilo que avistamos ao longe, que definimos como um recorte de um lugar, o que está perto demais (como a palma da mão) ou a distância entre duas pessoas, uma construção de partilha com o tempo e o lugar.
A mostra se organiza a partir dos trabalhos e contextos de produção de seis artistas, com obras da coleção permanente do MON: Gustavo Caboco, Rosana Paulino, Efigênia Rolim, Miguel Bakun, Cícero Dias e Amélia Toledo. Seus trabalhos geraram constelações conceituais com outros 40 artistas. Assim, como numa mvúka, se aglomeram e nos perguntam: como praticamos nossas ações nas paisagens e nos lugares que vemos? As paisagens estão em fluxo e podem definir nossos modos de existir? Diante dessas indagações, podemos pensar junto com os muitos povos originários que habitam o Brasil: corpo e lugar não conhecem hierarquias, pois confundem-se e, por isso, coexistem, sendo um parte do outro. Ou, como diria o poeta, professor, líder quilombola Nêgo Bispo (1959-2023, Piauí): “O ser humano não pode ser entendido como criador, mas como criatura da natureza, do lugar onde é e habita. Quando somos conscientes de que vivemos graças às “biointerações” entre espécies e a terra, temos condições de nos vincular aos territórios e às paisagens, habitando-os e respeitando-os na mesma intensidade que nos vemos como parte deles”. Assim, as paisagens não são apenas abstrações de lugares, mas instâncias ativas que nos constituem como seres e desenham os nossos modos de existir.
Galciani Neves
Curadora
O Museu Oscar Niemeyer é um espaço vivo de diálogo, pesquisa e constante troca entre profissionais dos setores artístico e educacional com o público.
Nossa proposta com o projeto “Antes e Agora, Longe e Aqui Dentro”, que culminou nesta inédita exposição, é gerar conteúdo educativo para o MON, a partir de um mergulho em seu rico e diversificado acervo, visando estabelecer diálogos entre o Museu e a arte contemporânea brasileira.
Entendemos que a coleção permanente de um museu é o seu coração. É importante destacar que o acervo do MON conta atualmente com 14 mil obras de arte, tendo quintuplicado de tamanho nos últimos anos e sendo cada vez mais valorizado. Prova disso é que cerca de metade das exposições realizadas pela instituição, como esta, trata de apresentá-lo ao público.
O projeto, mais do que isso, faz parte da ampla proposta educativa do Museu. Partiu de uma pesquisa coordenada pela professora e curadora Galciani Neves, junto com a equipe do MON, que teve início em 2023.
Por meio de estudos e da realização de um seminário, foi escolhida uma centena de obras produzidas por dezenas de artistas que compõem o nosso acervo. São trabalhos considerados relevantes tanto para o contexto de produção artística da cidade de Curitiba quanto para a história da arte do Estado do Paraná e do Brasil e que, assim, celebram a diversidade e a importância encontradas no Museu.
Ao aproximar tais obras – realizadas por artistas, tempos e linguagens tão distintas –, sugerimos uma convivência diversa. É uma maneira instigante de convidar o visitante a uma imersão na coleção permanente da instituição.
Juliana Vellozo Almeida Vosnika
Diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer
Para chegar até aqui você percorreu caminhos – espontâneos, com uma rota predeterminada, com pausas, com surpresas pelo trajeto percorrido... Caminhar pela cidade ou no interior de prédios como este são movimentos que nos modificam ao mesmo tempo em que modificamos cada lugar pelo qual passamos. Essa é a dinâmica das paisagens, os sujeitos as constituem e elas interagem com os sujeitos. A caminhada é uma partilha de tempo com o espaço. Os laços singulares que criamos em deslocamentos de um lugar para outro passam a integrar o que somos e a se localizar como pequenos lampejos de memória nos lugares. Trata-se de um movimento de muitos fluxos: nosso corpo se move ao mesmo tempo em que mobilizamos lugares.
Nesta mostra, propomos que a experiência de estar com os trabalhos inclua também gestos de criar percursos, pois a mostra se espalha por 11 espaços do Museu. Não há uma rota específica. Há pequenas observações por onde ela continua, que você pode seguir quando quiser e se a curiosidade surgir.
Os caminhos que você criar para ver os trabalhos também integram as experiências de visitar a mostra. Esses modos de circular pelo Museu podem entrelaçar os trabalhos e provocar relações não previstas, deixando rastros dessa experiência. Além disso, o próprio Museu, ou seja, seu espaço físico e as obras, assim como pessoas que aqui circulam e você também, fazem parte desses percursos. Percursos que se transmutam em pequenas paisagens temporárias que você vai avistar enquanto deriva por aí.
Os trabalhos que desenvolvo abordam as violências sobre as corpas dissidentes. O projeto “A Natureza da Vida” acontece a partir do ano 2000, com ações e performances realizadas em locais públicos em que poso, quase sempre nua, para fotos e vídeos realizadas por diferentes fotógrafas(os) que participam das ações e seus múltiplos olhares constroem o trabalho. Questões do corpo através de um posicionamento político, discutindo padrões, estética e as diversidades integram o trabalho.
Foi durante uma viagem que, pelas redes, acompanhei notícias sobre o corte de árvores do Bosque Central de Londrina para passar uma rua. A resistência de jornalistas e artistas da cidade criou o Grupo Ocupa Londrina, que se aliou à ONG MAE para manter os resquícios da mata original que sobrevive no coração da cidade. Somando nesse ativismo coletivo, propus um varal de fotografias para que todos pudessem participar e se posicionar. Assim que retornei, em meio a tantas manifestações, realizei a performance em meio aos troncos caídos e ao solo revolvido pelos grandes equipamentos. Esta ação foi determinante para o trabalho. As imagens, realizadas como protesto, foram expostas junto com poemas, desenhos, charges e outras fotos produzidas por diversas(os) artistas da cidade. A corpa gorda aqui extrapola o próprio discurso para se somar a um corpo social que se expressa publicamente em favor de uma causa coletiva e se coloca a serviço de todes, se posicionando nua perante a violência.
Depois de longa luta, a obra foi embargada e o lugar, transformado em área de preservação permanente (APA). Infelizmente, dez anos depois, durante a pandemia, o poder público revogou a APA, transformou o bosque em praça e este foi “urbanizado”. Apesar disso, por enquanto, a abertura da rua não foi novamente cogitada.
Trazemos aqui outras fotografias que envolvem essa performance, momentos que resultaram no trabalho e são sua força criadora. O jornalista Guto Rocha enfrenta o trator e convoca artistas para defenderem o bosque. Fotografia por Gina Mardones; Graziela Diez e Luciano Pascoal fotografando a performance; fotografia por Camila Fujita; Varal de Fotografia durante o Ocupa Londrina; fotografias por Graziela Diez e Fernanda Magalhães.
Legenda
“Fábrica (Campo de Batalha)” apresenta um atravessamento de histórias, pessoas e paisagens cujas distâncias correspondem a mais de 200 anos: a do extermínio de uma comunidade Kaingáng (1796) e de uma classe operária (a partir dos anos 1940) em um território ocupado e controlado por uma grande fábrica de papel, na cidade de Telêmaco Borba/PR. “Campo de Batalha” é uma expressão militar que designa um território escolhido previamente e preparado como uma armadilha para a qual o inimigo é encaminhado através da persuasão, ou outra forma subliminar.
A história “oficial” registra a transmissão e manutenção do poder econômico como os nomes dos fazendeiros da região desde antes do extermínio Kaingáng e nos permite considerar os donos da fábrica como sucessores dos donatários do século XVIII. Da outra parte da história, a dos indígenas e dos operários, os relatos e imagens são praticamente inexistentes. Haveria alguma relação entre a população da região, os trabalhadores da fábrica e os Kaingáng? Esses fios soltos algum dia foram parte de uma mesma trama?
Texto 01
Na margem direita do Rio Tibagi está a sede da Fazenda Monte Alegre, pertencente às famílias proprietárias da fábrica de papel. O local onde construíram a indústria, sua sede administrativa e a vila operária foi denominado Vila Harmonia, apesar de, por mais de 150 anos, ter sido chamado de Mortandade. A alteração do nome foi uma tentativa de apagar a história de extermínio de uma comunidade Kaingáng.
Por volta de 1796, a mando do fazendeiro José Félix, dono do maior latifúndio dos Campos Gerais, um grupo Kaingáng, habitantes originários da região, foi cercado e assassinado. Contavam que o sangue era tanto que correu em filetes até um rio afluente do Tibagi. Os corpos dos homens, mulheres e crianças ficaram amontoados e por muitos dias observaram corvos sobrevoando-os. Como retribuição pelo extermínio praticado, José Felix recebeu uma grande extensão de terras que denominou Fazenda Monte Alegre. O rio e a localidade da chacina ficaram conhecidos como Mortandade, até que, em 1941, por sugestão dos donos da fábrica, passou a chamar-se Harmonia.
Texto 02
“Evitemosacidentes”. O espaçamento entre as letras não deixa claro qual é a mensagem. Que nós, fábrica + trabalhadores, “Evitemos acidentes”; ou que vocês, os trabalhadores, “Evitem os acidentes”. Essa névoa que recobre o texto também se faz presente na relação entre a fábrica e os trabalhadores. Uma névoa de promessas e ameaças. O discurso da fábrica sempre foi o do desenvolvimento, da tecnologia, do progresso e das oportunidades. Sua construção no meio do “nada”, afinal, os que antes ali habitaram foram assassinados, expulsos ou apagados da história pelo latifúndio, projetou também aos trabalhadores uma imagem de transformação.
Entre os anos 1942-78, mais de 60% dos trabalhadores da fábrica eram da própria região – em sua imensa maioria, trabalhadores rurais, analfabetos ou com ensino primário incompleto, cujas vidas estavam isoladas e abandonadas. O desejo sempre latente de estar em comunidade, partilhar o mundo e melhorar as condições materiais de vida embaralhou-se com o discurso da fábrica. Uma confusão que poucos, pouco a pouco, buscaram desfazer através da criação de um sindicato que representasse os interesses dos trabalhadores frente aos dos donos da fábrica.
Através da sabotagem e intervenção militar-patronal na organização sindical após 31 de março de 1964, bem como as dificuldades impostas nas negociações coletivas, as promessas se revelaram ameaças. O vapor da caldeira, os gazes tóxicos, o ruído das máquinas e o perigo das mesmas impregnavam-se no corpo dos trabalhadores. Uma experiência que lhes ensinou a ler o texto e a enxergar uma exclamação no final, “Evitem os acidentes!”.
Exposição virtual
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Características da exposição
Estímulo físico
Restrição de movimento
Estímulo Sonoro
Local com ruído
Estímulo Sonoro
Som inesperado
Estímulo Visual
Luz oscilante
Estímulo Olfativo
Odores