Extravagâncias
Joana Vasconcelos
Reconhecida pelas esculturas monumentais e instalações imersivas, a portuguesa Joana Vasconcelos convida os visitantes a mergulharem num universo jamais criado no Museu Oscar Niemeyer. “Extravagâncias” reúne obras com dimensões estratosféricas, como a “Valquíria Miss Dior” e a “Valquíria Matarazzo”, além de uma mostra de maquetes que permite explorar a ligação da arte com o espaço e a arquitetura. Essa grandiosa exposição ocupa não só o Olho, os andares da torre e os espaços Araucária, como transformam, pela primeira vez, a rampa do Museu em um extraordinário espaço expositivo. A curadoria de Marc Pottier revela instalações e esculturas que extrapolam e invadem o espaço do Museu, dando um vislumbre da extensa trajetória profissional de Joana Vasconcelos, que, com humor e ironia, questiona o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva.
Artista
Joana Vasconcelos
Curadoria
Marc Pottier
Período em cartaz
De 24 de novembro de 2023
Até 29 de setembro de 2024
Local
Olho, rampa, torre, túnel, área externa e Espaço Araucária
Livre
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SAIBA MAIS SOBRE A EXPOSIÇÃO
MON realiza a maior exposição individual de Joana Vasconcelos no Brasil
A partir do dia 23 de novembro, o Museu Oscar Niemeyer levará seu público a uma imersão no mundo mágico da portuguesa Joana Vasconcelos. “Extravagâncias” é a maior exposição individual da artista no Brasil e uma das mais grandiosas já realizadas pelo MON.
“Olho e diversos espaços singulares abaixo dele, andares da torre e a principal rampa interna do Museu foram ocupados pelo colorido e pela criatividade dessa artista que vive e trabalha em Lisboa, mas cuja arte transborda os limites de Portugal e da Europa e fascina o público de vários continentes”, explica a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika.
“Instalações e esculturas monumentais extrapolam o espaço e invadem o MON, convidando o visitante a mergulhar num universo jamais criado no Museu”, comenta.
Sua “Valquíria Miss Dior”, obra internacionalmente famosa, é a atração do mais nobre espaço expositivo do Museu. Com estratosféricas dimensões (aproximadamente 7 metros de altura e mais de 20 metros de comprimento), a incrível obra mistura crochê de lã feito à mão, tecidos e poliéster, suspensa em cabos de aço, numa peça única.
“Outro destaque é a ‘Valquíria Matarazzo’, que recepciona o público instalada sobre a rampa principal de acesso ao Museu, na entrada de visitantes, local nunca antes utilizado como espaço expositivo”, conta Juliana.
A secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, afirma que “mais uma vez, o nosso Museu Oscar Niemeyer se consolida como um dos museus mais importantes do cenário internacional da arte contemporânea ao receber a maior exposição da artista Joana Vasconcelos no Brasil”. Ela comenta: “tenho certeza de que esta será uma experiência inesquecível para o público visitante”.
Já a artista plástica Joana Vasconcelos declara: “Estou muito feliz por voltar ao Brasil e poder reunir a minha última ‘Valquíria (Miss Dior)’ com a que criei para o Matarazzo em 2014, num diálogo muito interessante não só entre as duas obras, mas também com a arquitetura do Museu. Concebi ainda, especialmente para o MON e pela primeira vez na minha carreira, uma mostra de maquetes que vai permitir explorar a ligação da obra de arte com o espaço e a arquitetura, uma ideia que surgiu a partir do privilégio que é expor no ‘Olho’ do Niemeyer”.
Curadoria
O curador da mostra, o francês Marc Pottier, afirma que “Extravagâncias”, de Joana Vasconcelos, transcende o barroco e o kitsch. “Depois do Guggenheim de Bilbao, do Château de Versailles, do Palazzo Grassi de Veneza, a artista apresenta a sua primeira exposição museológica no Brasil”, informa.
Ele explica que a gigantesca instalação “Valquíria Miss Dior” foi criada neste ano pela artista para o desfile da Dior, em Paris, e atualmente figura nas vitrines da marca em vários locais do planeta. “É uma obra que desafia todas as tendências artísticas e quebra a monotonia de uma estética”, diz o curador.
“A seleção de modelos dos seus principais projetos site-specific realizados em todo o mundo permite-nos captar a amplitude de uma personalidade extraordinária que parece ter o céu como limite”, comenta.
Além do Olho e da rampa do Museu, o trabalho da artista ocupa os andares da torre e espaços Araucária, onde o público poderá ver obras como “Pantelmina”, “Big Booby”, maquetes dos icônicos “Solitário”, “Castiçais”, “Gateway”, “Bolo de Noiva”, “Máscara” e “Sapato”, além de diversos painéis.
A artista
Joana Vasconcelos tem uma trajetória profissional de aproximadamente 30 anos que abarca uma enorme variedade de técnicas. Reconhecida pelas suas esculturas monumentais e instalações imersivas, descontextualiza objetos do cotidiano e atualiza o conceito de artes e ofícios para o século XXI, estabelecendo um diálogo entre a esfera privada e o espaço público, a herança popular e a alta cultura. Com humor e ironia, questiona o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva.
A aclamação internacional teve início em 2005, com “A Noiva”, na primeira Bienal de Veneza curada por mulheres. Foi a mais jovem artista e primeira mulher a expor no Palácio de Versalhes. Em 2012, a sua exposição foi a mais visitada na França em 50 anos, com um público recorde de 1,6 milhão de pessoas.
Em 2018, Joana Vasconcelos tornou-se a primeira artista portuguesa a ter uma individual no Guggenheim de Bilbao, a quarta melhor daquele ano no ranking do The Art Newspaper e a terceira mais visitada da história do museu. Atualmente, em 2023, ela concretizou a honra de expor nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença, ao lado de mestres clássicos como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravaggio e Botticelli.
Com obras de arte e exposições em quatro continentes, a artista foi agraciada com mais de 30 prêmios. Em 2009, recebeu o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República Portuguesa e, em 2022, tornou-se Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura Francês. Desde 2006, mantém o Atelier Joana Vasconcelos, com mais de 50 funcionários. Em 2012 criou a Fundação Joana Vasconcelos para conceder bolsas de estudo, apoiar causas sociais e promover a arte para todos.
Imagens
André Nacli
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Vídeo destaque
Materiais da exposição
Versão em Áudio - Texto Curatorial e Institucional
Versão em Áudio - Uma Parte de Crítica Feminista
Versão em Áudio - Valquírias Suspensas no Ar
Versão em Áudio - Uma Tradição das Folies
Versão em Áudio - Valquíria Matarazzo
Extravagâncias de Joana Vasconcelos
Uma inesquecível imersão no mundo mágico da artista Joana Vasconcelos é a proposta do Museu Oscar Niemeyer com esta exposição, uma das mais grandiosas já realizadas pela instituição.
Instalações e esculturas monumentais extrapolam o espaço e invadem o MON. O visitante é convidado a mergulhar num universo jamais criado no Museu.
Olho e diversos espaços singulares abaixo dele, andares da torre e a principal rampa interna do Museu foram ocupados pelo colorido e pela criatividade dessa artista que vive e trabalha em Lisboa, mas cuja arte transbordou os limites de Portugal e da Europa e fascina o público de vários continentes.
Sua “Valquíria Miss Dior”, obra internacionalmente famosa, é a atração do mais nobre espaço expositivo do Museu. Com estratosféricas dimensões, a incrível obra mistura crochê de lã feito à mão, tecidos e poliéster, suspensa em cabos de aço, numa peça única.
Utilizando enorme variedade de técnicas, numa linguagem própria e singular, Joana Vasconcelos atualiza o conceito das artes. Com ironia e humor, traz símbolos cotidianos ao espaço público e questiona com irreverência temas como o feminino, o consumismo e a identidade coletiva.
Suas obras de arte marcam presença em diversos outros museus e instituições pelo mundo. Um exemplo: atualmente ela também expõe nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença, Itália. Agraciada com dezenas de prêmios, a artista ainda gerencia o Atelier e a Fundação homônimos, concede bolsas de estudo e apoia causas sociais.
Mais do que nunca, a arte aqui apresenta-se como inspiração.
Em constante busca para se tornar cada vez mais vivo e atuante, nacional e internacionalmente, o MON oferece uma exposição irretocável, com a assinatura de um dos mais importantes nomes da arte contemporânea mundial.
Desfrutem!
Juliana Vellozo Almeida Vosnika
Diretora-presidente
Museu Oscar Niemeyer
Transcendendo o Barroco e o kitsch
A exposição “Extravagâncias” dá o tom “Barroco” de uma obra que desafia todas as tendências artísticas e quebra a monotonia de uma estética muitas vezes também convencional. Uma seleção de modelos dos principais projetos site-specific realizados pela artista Joana Vasconcelos ao redor do mundo permite-nos captar a amplitude de uma personalidade extraordinária que parece ter o céu como limite.
Depois do Guggenheim de Bilbao, do Château de Versailles, do Palazzo Grassi de Veneza, para sua primeira exposição museológica no Brasil, ela apresenta seus trabalhos e, entre eles, “Valquíria Miss Dior”, uma gigantesca instalação imersiva criada este ano para o desfile, em Paris, da coleção Outono/Inverno 2023-2024 da Dior.
A artista dos superlativos
Muitos superlativos vêm à mente quando olhamos para a obra de Joana Vasconcelos: inclassificável, “à parte”, exuberância imprevisível, transgressão, excesso… Seu trabalho explode em ideias e energia, numa obra que se desvia de qualquer caminho estabelecido. A tradição popular e a arte contemporânea se casam de modo aventureiro para inventar novas formas. Na verdade, Joana questiona o que pode ser o artesanato no século XXI. Ela subjuga o banal e integra objetos do cotidiano com uma ironia que lhe é única, criando uma ligação entre o ambiente doméstico e o espaço público. Ela questiona incansavelmente o lugar da mulher no mundo, mas também o da identidade coletiva, sem esquecer uma ironia mordaz sobre uma sociedade onde o consumo não conhece limites. As suas deslumbrantes “Valquírias” homenageiam grandes mulheres contemporâneas das diferentes culturas locais dos países onde expõe, ao mesmo tempo em que dão uma ideia da sua paleta extravagante.
Barroco = “A Utilidade da Inutilidade” – Simon Leys (1935-2014)
Vindo da combinação de extra (“fora”) e vagari (“vagar aqui e ali”), o substantivo “extravagância”, escolhido no plural como título desta primeira exposição de Joana Vasconcelos no Brasil, sugere a ideia de múltiplas mudanças de direção ditadas pela fantasia ou capricho, uma errância barroca associada à ultrapassagem de qualquer fronteira ou norma. Com Joana tudo parece ser um caminho possível, já que ela não segue nenhum caminho preciso ou definido. Nem a Pop Art, nem o Novo Realismo serão capazes de trancá-la em suas caixas.
“Extravagâncias”: onde a experimentação é levada ao limite
Um helicóptero feito de penas de avestruz, um desvario arquitetônico em forma de bolo, os gigantescos corações de Viana do Castelo feitos de talheres de plástico colorido, desenhos de azulejos de piscina, um lustre feito de absorventes higiênicos internos, sapatos de salto alto feitos de panelas, Valquírias bordadas cada vez maiores... nenhum limite parece ser capaz de enquadrar ou confinar sua imaginação transbordante. Ela traça o seu caminho e determina-o como lhe agrada, de forma poética e eufórica, sem qualquer obstáculo aparente ou dificuldade logística que possa travar a sua criatividade. A sua “extravagância” leva a experiência ao limite. Com o seu trabalho, ela nos oferece o melhor antídoto para o risco inerente à nossa condição humana, de cair na rotina ou na rotina do hábito, nos levando para uma dinâmica magistral da utilidade da inutilidade.
Uma obra que destaca a diversidade visual
A sua abundância de obras feministas assertivas e excêntricas revisita avidamente o que o “nobre” ou o “menor”, a “tradição” e o “elitismo” querem e podem dizer hoje. O “kitsch” ou mesmo o “hyperkitsch” de Joana favorece múltiplas releituras de “nossa civilização do excesso”, segundo a definição de Gilles Lipovetsky & Jean Serroy, em seu recente ensaio (Gallimard): “Há um kitsch que felizmente poetiza o mundo. O kitsch tem o mérito de ser percebido e amado porque dá leveza, permite uma forma de fuga fácil”.
Sem dúvida, Joana Vasconcelos abala convenções e estereótipos, obrigando o seu público a reconsiderar as ideias convencionais e as fronteiras do gosto. Ao abolir a separação de gêneros, a sua obra (super) vitaminada e otimista traça um caminho que encanta. Aperte o cinto e prepare-se para essa grande decolagem no MON.
Marc Pottier
Curador
Um cérebro que parece funcionar 24 horas por dia
Conhecer Joana Vasconcelos, artista nascida em Paris, em 1971, e que hoje vive e trabalha em Lisboa, é entrar num universo do infinitamente grande. O seu ateliê XXL, nos antigos armazéns portuários remodelados nas margens do Tejo, tem 3.400 metros quadrados distribuídos por quatro andares e uma equipe de 56 pessoas trabalhando laboriosamente em torno dela. O ambiente é de um ateliê renascentista e nele cruzamos visitantes para os workshops, ou para as múltiplas reuniões para montar exposições ou para a criação de obras permanentes. Conseguir conversar com uma artista que tem projetos nos quatro cantos do mundo, quando ela não está nas aulas de Aikido, é um desafio. Mas que é amplamente recompensado porque, com todos que acolhe, Joana está sempre disponível e sorridente. Não existem problemas na vida, apenas soluções, parece ser a sua filosofia. Essa garota hiperativa nunca para e tem o adorável hábito de sempre desenhar quando fala com você em videoconferência. Será que ela dá a esses desenhos os nomes das pessoas com quem estava conversando?
M. P.
Uma parte de crítica feminista
Extravagantemente animada, as inaugurações de Joana Vasconcelos são orquestradas de maneira que realmente a vemos entrar em cena. Por ter o hábito de apoiar estilistas emergentes, ela está sempre espetacularmente vestida. A sua impressionante coleção de vestidos pode ser vista numa parte do seu ateliê, onde existe também uma grande sala de jantar para todos, uma sala de yoga, uma sala de massagem... Um universo de vida onde todos têm a oportunidade de parar e respirar da melhor forma possível, depois das muitas viradas criativas que a patroa multiplica.
Se Joana Vasconcelos parece ceder a uma certa coqueteria ao exagerar na feminilidade, é para melhor denunciar os lugares-comuns. Por mais famosa que seja, não deixam de surgir dificuldades quando apresenta algumas das suas obras, como foi o caso com “A Noiva”. Nessa escultura pendendo do teto, na forma de lustre clássico, ela substituiu os pingentes de cristal por aproximadamente 14 mil absorventes higiênicos íntimos. A obra foi censurada em certas instituições, como no Château de Versailles, pela sua exposição em 2012. A luta não parou por aí. Podem ficar certos, ela tem energia de sobra para se fazer ouvir.
M. P.
“Valquírias” suspensas no ar
A exposição de Joana Vasconcelos no MON inclui duas de suas “Valquírias”: “Miss Dior” e “Matarazzo”. Esta última foi apresentada em 2014, na “Invasão Criativa” do antigo hospital homônimo em São Paulo. Seus grandes móbiles, suspensos por sistemas de cabos tensionados no teto ou na arquitetura dos locais onde a artista expõe, podem parecer polvos com seus múltiplos braços longos, dos quais fluem grandes gotas que completam, de forma vertical, os grandes meandros horizontais das obras. Joana tem predileção por materiais têxteis. As suas “Valquírias” são, geralmente, compostas por tecidos e roupas feitas em Portugal: saias floridas, guardanapos com bordados extravagantemente complicados, sedas para cortinas ou poltronas, guirlandas florais – que permitem a Joana explorar a costura, o tricô e o crochê – e muitos métodos ancestrais que, por vezes, ela faz reviver. As “Valquírias” são geralmente acompanhadas por um sistema de luzes LED que acentuam a magia das suas composições tentaculares e imersivas.
O luxo é “algo que nos diferencia na Europa e é um provedor essencial de empregos. Esse setor permite sustentar redes de artesãos, e o ‘savoir-faire’ tradicional perdura graças à utilização contemporânea dessas competências. Não é desprezível. Mais pessoalmente, o luxo me inspira. Por exemplo, no meu trabalho gosto de subverter o luxo português: uso rendas, bordados, seda, passamanaria. Gosto de dar vida a essas técnicas” (Joana Vasconcelos).
M. P.
Da mitologia nórdica à estética contemporânea
Joana Vasconcelos lembra que na mitologia nórdica as Valquírias são divindades que serviam a Odin, mestre dos deuses. Cobertas com armaduras, mulheres iguais aos homens, elas voavam, lideravam batalhas, distribuíam a morte entre os guerreiros e levavam as almas dos heróis para Valhalla, o grande palácio de Odin. Desde Wagner, a arte moderna as representa como virgens suntuosas montadas em cavalos alados, ornadas com capacetes e armadas com lanças. O nome “Valquíria” vem do nórdico antigo Valkyrja, literalmente “escolhedora dos mortos”. Elas escolhem quem viverá ou morrerá no campo de batalha.
Desde 2003, Joana criou cerca de 30 “Valquírias” ao redor do mundo. Geralmente são compostas por vários grandes elementos, sendo que as Valquírias mitológicas são 13, às quais se acrescentam outras menores que completam o conjunto.
M. P.
Celebração da liberdade feminina
Suas “Valquírias” são pretextos para lançar luz sobre personalidades femininas, como foi o caso, em 2019, com “Simone” (9,65 x 12,20 x 30,51 m), no Bon Marché, em Paris, em homenagem a grandes figuras femininas francesas como Simone Veil e Simone de Beauvoir, mas também Simone Hérault, atriz conhecida por ser a voz da SNCF (linha nacional de trens na França) durante 40 anos. Para Joana, essas mulheres foram grandes Valquírias dos tempos modernos.
M. P.
Trazendo Catherine Dior para o centro das atenções
Com Maria Grazia Chiuri, a estilista italiana, atual diretora artística da casa Dior, Joana quis tecer um diálogo em torno de Catherine Dior, irmã de Monsieur Dior, figura feminina forte e independente, que atuou na Resistência Francesa. A “Valkyrie Miss Dior” (6,80 x 21 x 24 m) utiliza tecidos florais inspirados nos arquivos da grife para a coleção Outono/Inverno 2023-2024 e foi certamente uma das obras mais “instagramáveis” do ano.
Para a Valquíria Miss Dior, Joana optou por usar tecidos florais mosqueados inspirados em cerca de 20 tecidos dos arquivos da Maison Dior, mas também bordados de pérolas e strass, rendas e elementos de crochê. Como todas as Valquírias, Miss Dior é inteiramente feita à mão pelas equipes do ateliê de Lisboa. É uma ode às flores de “Miss Dior” e ao esplendor da natureza cara ao legendário costureiro, criando assim uma ligação entre lugares, tempos e cultura. A obra de Vasconcelos desenrola-se num espaço banhado por uma luz azulada, evocando os abismos de um oceano.
Para o desfile da Dior, esta nova “Valquíria” ocupou todo o espaço da tenda onde foi instalada. Ela fez parecer quase impossível escapar dela. “Ilhas” com formas orgânicas, também em tecido, convidavam o público a sentar-se. O MON apresenta uma versão adaptada, em seu Olho, oferecendo assim um diálogo entre Joana Vasconcelos, Catherine Dior e a arquitetura do grande Oscar Niemeyer.
M. P.
Na tradição das “Folies” arquitetônicas do século XVIII
A exposição do MON reúne também uma série de modelos dos numerosos projetos site-specific realizados por Joana Vasconcelos ao redor do mundo, como, por exemplo, o “Bolo de Noiva”. Trata-se de uma incrível “loucura” arquitetônica em três níveis, com 12 metros de altura e 13 metros de diâmetro, que está instalada desde junho no parque de Waddesdon Manor, gerido pela fundação Rothschild, a noroeste de Londres. Joana criou a sua versão de “um templo de amor e alegria”, com o toque de humor que a caracteriza: os namorados poderão encontrar-se no topo, tornando-se assim semelhantes às estatuetas dos noivos no topo dos bolos de casamento. O “Bolo de Noiva” é inteiramente revestido, por dentro e por fora, com azulejos artesanais e peças de cerâmica da centenária fábrica Viúva Lamego. A obra se assenta numa estrutura metálica, na qual foram incorporados cascatas e um complexo sistema de iluminação. Apesar de ela nos levar a pensar imediatamente nas “Folies” arquitetônicas do século XVIII, o conjunto é, na verdade, inspirado na exuberância do Barroco e nas tradições decorativas da cidade de Lisboa.
M. P.
Para escapar do seu destino
Outro exemplo recente de Joana Vasconcelos como artista que nunca para é a “Árvore da Vida”, obra criada este ano especialmente para a Sainte-Chapelle du Château de Vincennes. Essa instalação, de 13 metros de altura, apresenta cerca de 140 mil folhas pretas, vermelhas e douradas que foram, claro, bordadas e tecidas à mão no ateliê da artista. Outra grande mulher está por trás desta obra de Joana Vasconcelos, que se inspirou na história do lugar, e na rainha Catarina de Médici, viúva de Henrique II que deu continuidade ao desenvolvimento da Sainte-Chapelle e do parque do castelo, plantando ali três mil olmos.
A obra também ecoa a figura mitológica feminina de Daphne, que se transforma em árvore para escapar de Apolo. Assumindo o desafio de dialogar com a escultura de 1622 do grande escultor italiano Bernini, na Villa Borghese, Joana Vasconcelos imaginou o momento no qual a figura mitológica de Daphne decide transformar-se em loureiro. Essa obra é, também, um momento de autodeterminação e autoaperfeiçoamento, pois, durante o confinamento pandêmico da Covid 19, a artista pediu às artesãs que trabalhavam com ela que criassem 140 mil folhas, todas bordadas à mão, com diferentes padrões inspirados no bordado português de Viana do Castelo. Assim, 354 ramos formam uma árvore que expressa o excesso da artista. Daphne terá escapado ao seu destino e Joana, de qualquer critério que a pudesse confinar.
M. P.
Praticamente todas as culturas do mundo incluem referências ao álcool presente frequentemente quando as pessoas se juntam e as comemorações têm lugar. Os franceses bebem champanhe, os japoneses brindam com saquê, os brasileiros tornam-se mais alegres com cachaça. Das suas viagens pelo mundo e numa referência ao primeiro readymade de Marcel Duchamp – “Porte-Bouteilles”, 1914 – Joana Vasconcelos concebeu a série “Castiçais”.
“Néctar” (2006) utiliza as tradicionais garrafas verdes de vinho usadas em Portugal e foi adquirido para a coleção associada à marca Bacalhoa; “Message in a Bottle” (2006) foi criado com recipientes de vidro azul para saquê; “Blue Champagne” foi desenvolvido para a exposição individual do artista visual no Palácio de Versalhes, em 2012, usando Pommery POP, e “Lafite” (2015) emprega as garrafas da famosa marca desenvolvida no Château Lafite Rothchild.
Todas elas são esculturas monumentais de exterior, formadas por duas estruturas gêmeas e verticais em ferro, onde milhares de garrafas de champanhe se justapõem para formar castiçais providos de luz interior própria. Subvertendo a escala doméstica e trazendo para o ar livre símbolos associados com as quatro paredes, empregando uma verticalidade exuberante, a artista portuguesa põe em foco os valores identitários associados às artes da mesa pelo globo fora.
Message in a Bottle, 2006
Garrafas de saquê, ferro metalizado e termolacado, LED de alto brilho, fonte de alimentação|
(2x) 650 x Ø 350 cm
Néctar, 2006
Garrafas de vinho, ferro metalizado e termolacado, LED de alto brilho, fonte de alimentação, cimento
(2x) 720 x Ø 350 cm
Coleção Berardo
Blue Champagne, 2012
Garrafas de Pommery POP Champagne, ferro metalizado e termolacado, LED de alto brilho, fonte de alimentação
(2x) 940 x Ø 496 cm
Obra produzida com o patrocínio de Vranken Pommery
Coleção particular
Lafite, 2015
Garrafas de vinho Château Lafite Rothschild, ferro forjado metalizado e termolacado, LED de alto brilho, fonte de alimentação
(2x) 700 x Ø 280 cm
Waddesdon, The Rothschild Collection (Rothschild Family Trust)
Jantes douradas de liga-leve de 18'', copos de uísque de cristal, ferro metalizado e termolacado, aço inoxidável, vidro temperado e laminado
720 x 604 x 209 cm
Obra composta por 1449 copos e 110 jantes
Coleção particular
O tema do desejo encontra-se no epicentro desta criação de Joana Vasconcelos que reproduz um anel de noivado em escala monumental. Representação do amor e do compromisso entre duas pessoas que a sociedade de consumo haveria de transformar em símbolo de estatuto e poder, o “Solitário” da artista plástica é composto por 110 jantes de automóvel douradas, que criam uma circunferência coroada por uma pirâmide invertida formada por 1450 copos de uísque em cristal, simulando um diamante gigante. Conjugando dois dos mais estereotipados símbolos de luxo – automóveis e diamantes – para recriar um dos objetos mais cobiçados do mundo, Joana Vasconcelos questiona ainda os papéis masculino e feminino na sociedade atual. Peça criada em 2018 para o exterior do Guggenheim de Bilbao, no contexto da exposição “I’m Your Mirror”, passou ainda pela Kunsthal de Roterdão, o Parque do Museu de Serralves e o Yorkshire Sculpture Park.
Em 2007, Joana Vasconcelos deu início a uma série de obras que questionam a condição doméstica da mulher, partindo de um rotineiro objeto da cozinha e estabelecendo uma improvável associação ao mundo do glamour. Através da sobreposição de tachos em aço-inoxidável e das suas tampas, a artista plástica cria um outro símbolo, associado tanto à elegância da sétima arte (declinado nos títulos “Marilyn”, “Dorothy”, “Priscilla” e “Carmen Miranda”) ou às aspirações oníricas do imaginário infantil (nomeado através de “Cinderela” ou “Betty Boop”). A multiplicação do objeto de pequenas dimensões – o Silampos número 18, que em Portugal é usado diariamente para cozinhar arroz branco para uma família de quatro pessoas – dá origem à escala monumental, naquela que poderia ser uma alusão ao papel estoico, e não frequentemente reconhecido, desempenhado pelas mulheres do mundo inteiro. Fazendo referência a conhecidas histórias de transformação, a artista plástica cria ainda uma nova camada de significado, com o objetivo de desconstruir estereótipos.
Bronze, espelhos
356 x 610 x 550 cm
Obra composta por 255 molduras e 510 espelhos
Edição de 7 + 2 PA
Sierra Portugal, SA
Aludindo ao papel dos artistas na sociedade, Joana Vasconcelos acaba por criar um jogo de ocultação. Servindo-se de 255 molduras barrocas em bronze (desenhadas e decoradas pela artista) e de 510 espelhos sobrepostos como se de escamas se tratasse, constrói uma surpreendente máscara veneziana. Através de uma peça escultórica que se adapta tanto ao espaço exterior como interior, estabelece um diálogo com a envolvência. Já o público que pretender encontrar a sua imagem devolvida, é convidado a descobrir que “só há reflexão quando há paralelismo”, como explica a artista plástica. Retirado da música homônima, composta por Lou Reed e interpretada pelos Velvet Underground e pela cantora Nico, o título também serviu de tema à mostra individual no Guggenheim de Bilbao.
29/06/2018 > 11/11/2018
Museu Guggenheim Bilbao, Bilbau
Espanha, Spain
Entre junho e novembro de 2018, o Guggenheim Bilbao apresentou aquela que foi a primeira exposição solo de um artista português naquele museu e a primeira antológica dedicada a Joana Vasconcelos na Espanha. Com um número total de 649.082 visitantes, continua a ser a terceira mais vista da história do museu, tendo sido também eleita a quarta melhor desse ano para The Art Newspaper. Comissariada por Petra Joos e Enrique Juncosa, a mostra reuniu cerca de 30 obras e uma instalação site-specific para o átrio central do museu, a “Valquíria Egeria” (em homenagem à primeira mulher viajante originária daquela zona), especialmente concebida para dialogar com a arquitetura de Frank Ghery. Tendo ido buscar o título I’m Your Mirror para a mostra à música homônima (composta por Lou Reed, interpretada pelos Velvet Underground e pela cantora Nico), a artista plástica aludia ao papel de representação da sociedade que é atribuído aos criadores de cada tempo histórico.
Azulejos Viúva Lamego
215 x Ø 900 cm
Coleção Robert & Nicky Wilson, Edimburgo
Jupiter Artland é afamada pela sua distinta coleção de esculturas e, portanto, os fundadores Nicky e Robert Wilson conseguiram surpreender Joana Vasconcelos com o pedido para criar uma piscina. Fazendo jus à relação do seu país com os mares e oceanos desde sempre, abordou então a Viúva Lamego para criar 13 mil azulejos pintados à mão e fabricados de forma tradicional, como ali se faz desde 1849, mas com o desafio adicional de uma superfície antiderrapante e resistente às temperaturas invernais de Edimburgo. O desenho vibrante e colorido da artista plástica inclui motivos de narrativas coletivas, geometrias sagradas, símbolos do zodíaco e muito mais. Inserida num jardim fechado, Gateway proporciona uma experiência simultaneamente íntima e expansiva, suprimindo a dicotomia entre público e privado, explorando o papel da piscina enquanto espaço lúdico e edificante da comunidade. Localizada numa paisagem mítica, deliberadamente posicionada ao longo de linhas de Ley, proporciona uma porta de entrada contemporânea para um discurso antigo e uma espiritualidade coletiva; um local para contemplar e mergulhar.
Alumínio, aço, tecidos, crochê de algodão feito à mão, ornamentos, LED, fonte de alimentação
1350 x 900 x 900 cm
Partindo do desafio para dialogar com a escultura de Gian Lorenzo Bernini na Vila Borghese, Joana Vasconcelos imaginou a árvore em que a figura mitológica de Dafne se torna quando, fugindo às investidas amorosas de Apolo, decide transformar-se em loureiro. Um gesto de autodeterminação e superação que encontrou paralelo quando, no confinamento a que o seu atelier se viu forçado devido à pandemia de Covid 19, a artista plástica pediu aos artesãos que com ela trabalham que se ocupassem da produção de folhas – 140 mil no total, todas bordadas à mão, com motivos diferentes, tal como o canutilho de Viana do Castelo, assentes em 354 ramos, formando uma árvore com mais de 13 metros de altura. Criação site-specific para a Sainte-Chapelle de Vincennes, em Paris, levada a cabo em colaboração com o Centre des Monuments Nationaux para celebrar a Temporada Cultural entre Portugal e França 2022, com curadoria de Jean-François Chougnet, a obra reforça a verticalidade do vínculo entre terra e céu, mundano e espiritual.
Azulejos e cerâmica Viúva Lamego, vidro, ferro forjado metalizado e termolacado, chapa de ferro zincada e pintada, LED, fibra ótica, fonte de alimentação, sistema hidráulico, ferro 720 x 1100 x ø 1300 cm
Waddesdon, The Rothschild Collection (Rothschild Family Trust)
Monumental escultura de três pisos, com 12 metros de altura e 365 metros de área total, o “Bolo de Noiva” que Joana Vasconcelos criou para a Fundação Rothschild completa-se quando duas pessoas se encontrarem no seu topo, à semelhança das figuras dos noivos nos bolos tradicionais. Totalmente revestido, por dentro e por fora, com azulejos artesanais e peças de cerâmica da centenária fábrica Viúva Lamego, assenta numa estrutura desenvolvida pela Metal Azóia, na qual foram incorporadas quedas de água e um intrincado sistema de iluminação. Inspirada na exuberância do Barroco e nas tradições decorativas da cidade de Lisboa, onde a artista vive e trabalha, a obra pode ser visitada, mediante marcação prévia, no parque de esculturas que integra o Dairy, em Waddesdon, Inglaterra. Na tradição dos pavilhões festivos da família Rothschild e dialogando com a sua requintada coleção de cerâmica, proporciona uma experiência imersiva aos visitantes do mundo inteiro, registrada nas memórias e fotografias das famílias do futuro. Cruzamento entre arquitetura e pastelaria, o projeto mais ambicioso de Joana Vasconcelos até a data é, acima de tudo, "um templo ao amor".
Esta obra, concebida em 2014 para a “Invasão Criativa” do antigo hospital homônimo em São Paulo, apresenta formas que lembram polvos com seus múltiplos braços, dos quais fluem elementos que completam o corpo central da obra. Joana tem predileção por materiais têxteis e suas “Valquírias” são compostas por tecidos e roupas feitas em Portugal: saias floridas, bordados complexos, sedas de cortinas ou poltronas, guirlandas florais que permitem a Joana explorar a costura, o tricô e o crochê e outros métodos ancestrais que ela faz reviver.
“O luxo é algo que nos diferencia na Europa e é um provedor essencial de empregos. Esse setor permite sustentar redes de artesãos, e o ‘savoir-faire’ tradicional perdura graças à utilização contemporânea dessas competências. O luxo me inspira. No meu trabalho gosto de subverter o luxo português: uso rendas, bordados, seda, passamanaria. Gosto de dar vida a essas técnicas” (Joana Vasconcelos).
À medida que entramos no túnel que Oscar Niemeyer criou, firmamos pés num território mágico que nos encaminha para uma paisagem que é a do futuro. Poderosamente onírica, uma das áreas mais fotografadas de todo o MON também é aquela em que a arquitetura se manifesta em toda a sua leveza, branca e curvilínea. Foi neste local, simultaneamente de passagem e de encontro, que Joana Vasconcelos visualizou a sua “Cortina do Sonho”. Intervenção site-specific temporariamente instalada como complemento à exposição “Extravagâncias”, apresenta-se como um véu de componentes têxteis, cor e luz. Do teto descem 41 módulos em forma de gota, de alturas variáveis, sendo que as de maiores dimensões contabilizam dois metros e meio de altura por 50 centímetros de largura, unidos por uma estrutura suspensa com 45 metros de extensão.
Obra desenvolvida em colaboração com a Dior, Paris, a partir de tecidos com motivos florais cedidos pela casa de moda francesa, emprega ainda iluminação LED, elementos diversos de passamanaria, adereços vários e crochê de lã feito à mão. Prodígio de pormenor elaborado pelos artesãos do Atelier Joana Vasconcelos, atualizando para o século XXI a ligação entre artes e ofícios, a “Cortina do Sonho” define o percurso até a Valquíria Miss Dior, que lhe serviu de mote e que se encontra no espaço do Olho. Pondo em foco a ligação entre a moda e o saber fazer manual, a artista interpela diferentes universos criativos, enquanto estabelece um diálogo, único e irrepetível, entre escultura e arquitetura, a partir da criação de Oscar Niemeyer.
“Cortina do Sonho”, 2024
Crochê de algodão feito à mão, tecidos, adereços, LED, poliéster, poliestireno, microcontrolador, fonte de alimentação e contraplacado.
250 x 48 x 4.560 cm
Obra produzida em colaboração com a Dior, Paris.
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Características da exposição
Estímulo físico
Restrição de movimento
Estímulo Sonoro
Local com ruído
Estímulo Visual
Luz oscilante
Estímulo Visual
Luz reduzida
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