Coleção Asiática

Está sendo difícil a aceitação pelo Ocidente de que a dinâmica do mundo mudou e de que é necessário convivermos com paradigmas novos e distintos nas relações internacionais. A Ásia tornou-se fator decisivo no mundo globalizado, e sua presença crescente e irreversível instiga sentimentos ambíguos: de um lado, o respeito despertado por um gigante de história muito antiga; de outro, o temor das possíveis consequências desse protagonismo. Antes de tudo, evidencia-se o despreparo do Ocidente para lidar com essa nova realidade.
A constatação de tal ambiguidade foi o impulso que motivou a decisão de focar minha carreira diplomática no continente asiático. Ao longo dos dezesseis anos nos quais servi em onze países da região – Índia, China, Japão, Paquistão, Afeganistão, Vietnã, Bangladesh, Myanmar, Cazaquistão, Jordânia e Taiwan –, busquei entender a densa carga civilizacional que os torna únicos na diversidade e similares em vários aspectos socioculturais. A história que compartilham os amalgama e até hoje condiciona essa interação, não apenas no âmbito do continente, mas também na relação com o Ocidente: desde as rotas da seda, na alta Antiguidade, se mantêm o contato e as trocas nos campos da arte, da religião e das ideologias entre os dois hemisférios.


Diferentemente do que ocorre deste lado do planeta, que estabeleceu uma hierarquia entre as chamadas “belas artes” – Pintura, desenho, gravura etc. – e as “artes aplicadas” – mobiliário, vestimenta, adereços etc. –, o indivíduo oriental percebe o mundo de forma holística. Seu olhar enxerga da mesma forma e com a mesma emoção tanto o que vê quanto o que veste, ou o objeto usado para guardar o alimento. Na verdade, no leste da Ásia – China, Japão e Coreias, por exemplo –, a arte maior é a caligrafia, que conjuga no mesmo suporte o gesto (o traço) e o pensamento ou a reflexão (o texto, poético na maioria das vezes): razão e estética se unem para transmitir a Ideia, em sua completude.
Este é o eixo conceitual da Coleção Asiática, que o Museu Oscar Niemeyer abriga desde 2018. Esculturas, Pinturas, gravuras, mobiliário, adereços e outros objetos – sobretudo dos países em que vivi e a partir dos quais dei corpo a esta coleção, que posteriormente doei ao MON – constituem um acervo de cerca de 3 mil obras de diferentes suportes e épocas. As distinções não ficam por aí, entretanto. Não se dá importância especial a determinada época ou valor à antiguidade da peça: a criação artística na Ásia não perdeu impulso ao longo dos séculos. Assim, mangás japoneses compartilham espaço com a cerâmica de Mehrgarh, do vale do rio Indo, o assentamento mais antigo do sul do continente.


A opção pela diversidade faz da coleção do MON a primeira ala asiática permanente num museu brasileiro, talvez na América Latina. Para poder expor de forma mais clara essa diversidade, o museu programou a rotação temporária do acervo asiático, tendo por base temas histórico-culturais específicos, que ajudarão o público visitante a melhor entender a densidade – e a importância – do continente, principalmente neste momento em que a Ásia ressurge como a região do planeta que mais se desenvolve, tornando-se um ator cada vez mais importante no cenário internacional e um parceiro privilegiado para o Brasil.


Fausto Godoy, curador e doador da Coleção Asiática


As obras da Coleção de Arte Asiática foram doadas ao MON pelo diplomata brasileiro Fausto Godoy, no ano de 2018.

Lakshmi com elefantes

Índia, Escola Basholi (Pahari) | Séc.XVII–XVIII | Tinta à base de água e douramento sobre papel | 32 x 39 x 2 cm

Nat (guardião)

Nat (guardian) | Myanmar | Séc. XX | Madeira e laca com policromia, douramento e incrustações de vidro | 96 x 41 x 20 cm

Recipiente cerimonial (Charakku)

Kerala, Índia | Séc. XIX–XX | Liga de sete metais sagrados (ouro, prata, cobre, estanho, chumbo, ferro e mercúrio) | 23.5 x 80 cm | Panela utilizada na distribuição de alimentos durante os rituais nos templos hindus.

Buda na postura Bhumisparsha Mudra

Sino-Tibetano | Dinastia Ming (1368–1644) | Bronze | 74.5 x 55 x 38 cm

Ganesha

Ganesha | Mumbai, Índia | Séc. XXI | Gesso com policromia | 63 x 50 x 35 cm | Imagem produzida para o festival Ganesha Chaturthi.

Serviçal (objeto tumular)

China | Dinastia Ming (1368–1644) | Cerâmica com glasura | 62 x 26 x 18 cm | Integrava cortejo simbólico de cerâmica colocado ao lado de uma tumba.